domingo, 27 de março de 2011

A Industrialização Brasileira


Este texto básico é produto dos debates realizados nas aulas de Geografia para o 4º Semestre da Terceira Etapa da Educação Para Jovens e Adultos (EJA), do Colégio Estadual Dr. Pedro Ludovico Teixeira, Trindade, Goiás. Foram elaboradas algumas atividades com base neste conteúdo aqui apresentado e trabalhado em sala de aula. Trata de uma breve abordagem sobre alguns aspectos marcantes do processo de industrialização do Brasil e a consolidação da hegemonia da economia industrial no território brasileiro.

O processo de industrialização do Brasil teve início na virada do século XIX para o século XX, portanto, foi uma industrialização tardia ou periférica por se tratar de um processo de extensão da industrialização clássica ocorrida na Europa no período da Revolução Industrial, século XVIII. A Revolução Industrial consolidou, de uma vez por todas, o modelo de acumulação capitalista como hegemônico na sociedade mundial e ampliou as desigualdades sociais com a concentração de renda nas mãos da elite econômica da sociedade industrial, ou seja, aqueles que controlam os meios de produção: donos das indústrias.

Para ocorrer a industrialização do Brasil, foi necessário, em primeiro plano, a extinção do trabalho escravo no país. Afinal de contas, os sistemas escravocratas não permitem a ampla distribuição da produção por contar com uma imensa massa de trabalhadores sem salários e, portanto, sem poder de compras dos produtos fabricados em grande escala. Além do mais, o principal produto brasileiro do final do século XIX era o café e na  virada do século sofreu consecutivas crises econômicas. Não sendo mais atrativo para os “Barões do Café” do sudeste brasileiro, principalmente do Estado de São Paulo.

Chegou-se a uma condição em que os escravos valiam mais que o produto principal (o café) e tinham um alto custo de manutenção, pois eram pagos a vista, antes mesmo de começarem a trabalhar e necessitava de um bom sistema de segurança para evitar revoltas e fugas de escravos. Mas o principal motivo da eliminação do trabalho escravo era a necessidade de se formar uma massa de trabalhadores assalariados para poder não apenas fabricar os produtos, mas consumi-los. Além disso, crescia o mercado consumidor de produtos importados da Europa nos grandes centros urbanos do país, o que era algo favorável ao investimento na industrialização. Outro fator importante da relação capital x trabalho no processo de industrialização do Brasil é o fato de a massa de trabalhadores escravos não permitia a modernização da mão-de-obra necessária para se efetivar uma sociedade industrial nos moldes da divisão internacional do trabalho.

Eles deveriam ter acesso à educação e isso era impossível num sistema escravocrata como do Brasil. Historicamente a população negra não teve acesso à educação para não poder se organizar melhor na luta contra a escravidão. Chegando ao ponto de os portugueses expulsarem da “Colônia Brasil”, de volta para a África, as etnias mulçumanas que sabiam ler e escrever, por possuírem alto grau de organização social entre eles e influenciarem as demais etnias. Mas a elite do café no Brasil estava disposta a mudar a situação para favorecer seus negócios e eles passam a forçar a corte brasileira à extinguir a escravidão no país.

O segundo passo a ser tomado por eles era de reorganizar a adensamento demográfico do país, pois São Paulo era, de longe, um estado populoso, fator primordial para a economia industrial. Deveria ter mais pessoas para trabalhar e consumir os produtos industrializados. Começa então um processo de incentivo à migração rumo ao “progresso” e ao “verdadeiro” desenvolvimento social e econômico da sociedade brasileira. O alvo era o povo do Nordeste Brasileiro, região de maior adensamento populacional e, portanto, de uma imensa massa de trabalhadores e trabalhadoras.

Por se tratar de uma região carregada de alto índice de pobreza e miséria, não foi difícil o convencimento para que os migrantes pegassem a estrada rumo a São Paulo. Tomada por “coronéis” rurais que concentram as terras em imensos latifúndios, os trabalhadores e trabalhadoras rurais do nordeste brasileiros eram empurrados e excluídos das terras férteis existentes na região e lançados rumo ao sertão da caatinga, seco e “improdutivo” proporcionando a vida miserável do povo sertanejo nordestino. A seca do nordeste deixa de ser um fenômeno apenas natural para se tornar social, sobretudo, ideológico e político nas mãos da elite política do Brasil que, ao incentivar a saída dos trabalhadores e trabalhadoras do nordeste, retirava dos coronéis a possibilidade de revoltas e lutas pela terra e lançava essa massa rumo ao trabalho urbano e industrial. O Mapa 1 apresenta o “Fluxo Migratório” do início do século XX no Brasil e a alta densidade existente no fluxo para São Paulo.


Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/interna/0,,OI3861158-EI14112,00-Ciencias+Humanas.html

A migração de trabalhadores do sertão nordestino para o trabalho nas indústrias ainda atendia a intenção da elite rural e racista do sul e sudeste em não absorver a mão de obra negra para o trabalho nas industrias e nas cidades. É bom ressaltar que neste período de “libertação” dos escravos, eles foram lançados para fora das cidades sem o direito à educação, saúde e terra para trabalhar. A Lei da Terra de 1860 não foi revogada e a mesma regia a proibição de terras para a população negra. Para intensificar mais o processo de “embranquecimento” da população brasileira, o governo brasileiro incentiva a migração internacional para o Brasil, principalmente de italianos e ingleses. Essa atitude favoreceu a qualificação técnica necessária da população para o trabalho nas fábricas e a expansão das ferrovias rumo ao centro do país.

De qualquer forma, mais tarde essa população negra é absorvida pela divisão internacional do trabalho que é a forma mais concreta da expansão capitalista em seu processo de territorialização pelo mundo. Todos devem ser inseridos no mercado de trabalho para ampliar as possibilidades de consumo e de trabalho, bem como, ampliar as condições de exploração do trabalho humano menos valorizado. Quanto mais mão-de-obra disponível, menores salários e mais exploração da carga-horária, tornando a mais valia[1] cada vez mais poderosa. Com a industrialização do Brasil inicia o processo de urbanização da sociedade que passa a viver cada vez mais nas cidades e menos nos campos. Essa concentração de pessoas nos centros urbanos favorece um crescimento espantoso do setor terciário, crescendo a ocupação no comercio e nos serviços essenciais para distribuição das mercadorias, como transporte e armazenamento.

Nesse sentido, São Paulo, foi estrategicamente se estruturando e favorecido geograficamente por estar próxima aos grandes portos do país, teve o trabalho apenas de ligar estes às ferrovias que partiam rumo ao interior do Brasil para escoamento da produção agrícola da época que abastecia o centro urbano. Com o crescimento da mão-de-obra no setor terciário, havia necessidade de haver outras localidades para realizar a produção agrícola que abastecesse São Paulo. Foi assim, que a ferrovia se tornou serviço estratégico para a ligação do Triângulo Mineiro, Oeste Paulista e Sul de Goiás e Sudeste do Mato Grosso com a economia industrial paulista. A expansão da estrada de ferro foi prioridade até a década de 1930 quando o Governo Getúlio Vargas, passou a incentivar a criação de rodovias para alavancar o comércio de combustíveis, automóveis e da indústria da borracha que crescia significativamente no país.

Com a consolidação da economia industrial em São Paulo na década de 1930, o Governo Vargas inicia o processo de expansão desta economia para o Centro-Oeste e Norte do Brasil. Era preciso que a economia capitalista se expandisse para se fazer hegemônica em todo território brasileiro. O Centro-Oeste se encontrava em estado de economia semelhante à “pré-capitalista” devido ao alto índice de produção de subsistência de sua agricultura. Poucos eram os produtos comercializados que tinham o arroz como principal mercadoria agrícola e o boi como o ponto forte da economia sertaneja do Centro-Oeste.

A relação capital X trabalho era a mais precária possível com alto poder de troca, a moeda quase não circulava e grande parte dos trabalhadores e trabalhadoras viviam em espécie de controle “cultural” dos coronéis. Para alguns estudiosos, o sistema agrário brasileiro foi semelhante ao sistema feudal europeu, onde os senhores tinham o controle do trabalho e da produção de seus servos. Os coronéis eram quase senhores feudais, tinham o controle econômico e político. Pagavam pelo trabalho de “seus peões” o que queriam e quando queriam. Muitas vezes implantavam o chamado “sistema de barracões”, uma espécie de escravidão sem correntes. Os trabalhadores e trabalhadoras eram explorados em troca de “poder morar” na propriedade e tinham que pagar pela comida e coisas que adquiriam na propriedade. Os patrões estabeleciam uma dívida impagável para que eles pudessem explorar o máximo o trabalho de seus peões e peoas.

Com a chegada da estrada de ferro no Triângulo Mineiro e depois no Sudeste Goiano, instaurou-se uma disputa pelo poder entre os antigos e os novos coronéis da política sertaneja. Os “novos” coronéis estavam inspirados no poder da economia industrial e a vida urbana do sudeste brasileiro e queriam implantar essa lógica no Centro-Oeste e Norte do país. A estrada de ferro, trazia para o interior não apenas os trilhos e o Trem-de-Ferro, mas a chamada Divisão Internacional do Trabalho, ou seja, o trabalho assalariado. Fomentava a indústria de beneficiamento do arroz e de produtos do leite e do gado. Começaram a ser implantadas as chamadas “Máquinas de Arroz”, os frigoríficos e cortumes e os laticínios. Era o início da industrialização da agricultura.

O comércio das cidades da estrada-de-ferro (Mapa 2) crescia rapidamente dando dinamismo à economia local e inserindo antigos trabalhadores rurais no mercado de trabalho urbano. Crescia também os trabalhadores e trabalhadoras assalariados(as) e com isso, circulava mais moedas, deixando de ser aquele estado econômico quase “pré-capitalista”, para o capitalista moderno.



Com o processo de modernização da agricultura se consolidando no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980, dois grandes projetos urbanos foram fundamentais para esta consolidação: A criação de Goiânia, Capital de Goiás e a criação de Brasília, Capital Federal. A criação dessas cidades trouxe fluxo migratório para o território goiano que mudou completamente seu dinamismo demográfico, econômico e social, ampliando a massa de trabalhadores e trabalhadoras e consolidando o mercado de produtos e serviços como principal atividade econômica da atualidade por representar maioria absoluta do PIB goiano nos últimos anos. Como forma de dinamizar melhor a administração territorial da produção agrícola e pecuária, os estados de Goiás e Mato Grosso foram divididos, dando origem aos estados Tocantins (1988) e Mato Grosso do Sul (1979).
Mapa 3



A analisarmos o Mapa 3 podemos observar a distribuição das atividades industriais no Brasil e como o Estado de Goiás é o estado do Centro Oeste com maior concentração de firmas. A imagem expressa bem como foi e é o processo de avanço das atividades industriais do sudeste para o centro-norte do país. Dessa forma, Goiás foi a base para a expansão capitalista industrial no centro-norte do Brasil.

No Mapa 4 podemos observar melhor como as atividades industriais de maior porte estão concentradas nas regiões de Goiânia e Brasília quando se observa o Estado de Goiás no mapa do Brasil. Em ambos os mapas pode-se perceber que as manchas de concentração da atividade industrial são quase contínuas no sentido de São Paulo para Goiás, formando o trajeto da estrada de ferro Mogiana que partiu de São Paulo, passou pelo Triângulo Mineiro e chegou no sul de Goiás no início do século XX.  Este é o caminho seguido depois pela descentralização da indústria brasileira pelo interior do Brasil.



Mapa 4



As conseqëncias dessa transformação no Estado de Goiás pode ser percebida na distribuição da população no território goiano. As maiores concentrações populacionais estão na Região Metropolitana de Goiânia e Região do Entorno do Distrito Federal, formatando os mesmos desenhos da espacialização das atividade industriais e de dinamização da economia com o comércio e seviço.

Se analisarmos os principais municípios goianos por PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, suas riquezas produzidas por ano, podemos perceber que, entre os 10 principais, somene quatro têm a agropecuária inserida na geração do PIB. Os principais municípios em geração de riquezas têm a indústria e o comércio como principais atividades. Tirando aquele estigma de que a economia goiana é mantida pela agropecuária. Na verdade todo o projeto nacional e internacional de expansão capitalista industrial para o sertão brasileiro que teve início no começo do século XX foi bem sucedido.

Esta lista se refere aos 10 municípios do estado de Goiás com PIB superior a R$1 bilhão de reais. Estes dados se referem ao ano de 2008.
Posição
Cidade
PIB em reais
População*
PIB per capita
Base da economia
1
19 457 328
1.301.892
15 376
Indústria, comércio e prestação de serviços
2
6 265 480
335.032
18 910
Indústria farmoquímica e comércio
3
3 873 756
455.735
7 827
Indústria, comércio e prestação de serviços
4
3 615 987
176.502
22 768
Agropecuária e indústria
5
3 348 904
86.597
42 062
Indústria, comércio, prestação de serviços e agropecuária
6
2 304 014
84.399
30 599
Indústria, comércio e prestação de serviços
7
2 047 097
92.942
22 289
Indústria e agropecuária
8
1 860 945
88.048
21 767
Agropecuária e Indústrias
9
1 805 535
174.546
8 859
Comércio e prestação de serviços
10
1 343 049
17 086
93 866
Comércio e agropecuária e Indústrias

*Dados do IBGE de 2008.
Percebe-se pelo gráfico exposto no site da Secretaria de Planejamento do Estado de Goias: WWW.seplan.go.gov.br , que a atividade industrial está presente na maioria absoluta dos municípios mais dinâmicos da economia goiana e, com isso, mostra também que a expansão capitalista industrial pelo Centro Oeste teve em Goiás o seu “Portal de Entrada”.

Espero que este simples texto possa contribuir com nossas aulas.

Boa leitura e ótimas reflexões.

Professor Ubiratan Francisco de Oliveira
Geografia



[1] Mais Valia: termo trabalhado por Marx em “O Capital” que se refere à acumulação de capital do patrão em cima da exploração do trabalhador na linha de produção. Ela consiste em ganhar o máximo possível no valor final do produto em detrimento à valorização da mão-de-obra disponibilizada para sua produção.

2 comentários:

  1. Excelente texto, caro colega geógrafo Bira. Ótima elucidação espaço-temporal.

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